Hoje 31 de Outubro de 2017, celebra-se os 500 anos da Reforma
Protestante de 1517, promovida pelo monge agostiniano Matinho Lutero ou Martin
Luther. Em sua época, Lutero é enviado por seu superior Johann von Stauptuioz, para se especializar em teologia, onde ele
vai para Universidade de Wittenberg, onde torna-se Doutor em Teologia em 1512.
Nessa época, a Igreja Católica vendia cartas de indulgências,
que eram documentos que, ao serem comprados, “apagavam” todos os pecados da pessoa viva (ou morta, caso fosse
comprado para livrar uma pessoa morta dos pecados). Outro ponto muito criticado
por Lutero foi sobre a autoridade do papa como chefe da religião cristã.
Após a publicação de suas
teses e sua excomunhão, em 1521, o édito de Worms baniu Lutero do Sacro
Império. No entanto, esse édito foi apenas parcialmente respeitado, pois Lutero
foi abrigado pelo príncipe da Saxônia, Frederico, e dentro dessa cidade, a
Reforma “aconteceu”: Clérigos se
casaram, a missa foi celebrada em alemão, foram introduzidas modificações no
culto; as prédicas protestantes iriam, então, se multiplicar. (LIENHARD, 2005)
Contudo, esse movimento
reformista não foi “inédito” na
história europeia. Antes de Martinho Lutero publicar suas teses e iniciar a
Reforma Protestante, dois intelectuais, dos séculos XIV e XV ganharam destaque
por serem “percussores” da Reforma
de Lutero, servindo até mesmo de inspiração para o mesmo (BRAICK E MOTA. 2007).
Esses intelectuais eram John Wycliffe, professor em Oxford
no século XIV e Jan Huss, padre na região da Boêmia, no século XV.
John Wycliffe
(1353-1384), professor de teologia em Oxford, defendia a ideia de que
a validade dos sacramentos não dependia daqueles que os administravam, assim,
só considerava válidos os componentes da religião cristão citados na bíblia,
além disso, desacreditava a utilização de imagens, a prática de peregrinações e
as indulgências pelos mortos. Sua principal influência, em longo prazo, seria a
tradução da bíblia para o inglês. Suas ideias seriam difundidas após sua morte,
sobretudo em Oxford, e se encontrariam, em parte, na Reforma protestante (LE
GOFF, 2007)
Já Jan Huss (1370-1415)
pregava uma reforma moral na igreja e uma obediência estrita à palavra de Deus,
tendo recebido influências diretas da doutrina pregada por Wycliffe. No
entanto, por ter entrado em conflito com a hierarquia eclesiástica, foi
excomungado pela igreja, e mais tarde foi perseguido por heresia, e acabou
sendo preso e queimado na fogueira, ao passo de que as obras de Wycliffe seriam
queimadas em público.
Sua morte causou uma revolta na população local, que retomou
suas ideias e lutou contra o imperador, rei da Boêmia. Esses revoltosos ficaram
conhecidos como hussitas, e eles conseguiram “separar” os tchecos da igreja romana, além de representar a
primeira expressão do nacionalismo boêmio. Esse conflito, que levou o terror
por onde passava e mais tarde foi massacrado pelas tropas do império, foi o
primeiro grande movimento revolucionário europeu e deixou a Europa estupefata
(LE GOFF, 2007)
Segundo Braick e Mota (2007),
o próprio Lutero admitira que “Huss era o grande precursor da reforma”,
mostrando a grande importância desses dois personagens que no passado também
praticaram suas “heresias”, que só
viriam a vingar no século XVI.
Apesar de o movimento ter
começado no século XVI, sendo simbolizado pelo gesto de Martinho Lutero
pregando suas 95 teses na porta do Castelo de Wittenberg, não pode ser
compreendido somente pelo que aconteceu nesse ano (MARQUES, BEIRUTTI E FARIA,
2010).
O pensamento da sociedade da
época começava a passar por mudanças, influenciadas pelas práticas
Renascentistas, como a ênfase ao uso da razão, ou seja, buscando explicações
mais racionalistas as questões que os cercavam, baseando-se na filosofia
humanista que surgia. Havia também o desejo de liberdade, que relacionado com a
vida urbana, pode fazer uma circulação de ideias muito maior do que acontecia
até então. (MUZARDO E SILVA, 2013).
Com todo esse processo reformista, com o surgimento das novas
religiões protestantes (Como Luteranos, Calvinistas, Batistas e Anglicanos, entre outros), a
Igreja Católica perdera muito de sua influência, “territórios” e, não menos
importante, fiéis, que agora se convertiam para as novas religiões. Sendo
assim, era necessária fazer sua própria reforma, chamada de “Contrarreforma” ou
“Reforma Católica”. Essa reforma, que já constava nos projetos de diversos
bispos e teólogos desde a Idade Média, vinham sendo protelada pelos papas.
Contudo, com a Reforma Protestante e suas consequências negativas para a
instituição, tornou-se “obrigatório” para a instituição fazer a sua, porém,
essa reforma agora teria um caráter “negativo”: O de ser contra a reforma
luterana (MARQUES, BEIRUTTI, FARIA, 2010).
A Reforma Católica ocorreu durante o Concílio de Trento, que
foi realizado entre os anos de 1545 e 1563. A partir desse concílio, alguns
pontos criticados foram alterados, outros, no entanto foram mantidos; Entre as
mudanças, houve a moderação na venda das cartas de indulgências e a formação de
seminários para a formação de novos membros do clero; No entanto, os sete
sacramentos, também criticados por Lutero, também se mantiveram; Além disso, o
índice de livros proibidos (Index) foi criado, juntamente com a reativação do
Tribunal de Inquisição do Santo Ofício, além da ênfase na Companhia de Jesus
(MUZARDO E SILVA, 2013). Dessa forma, a Igreja Católica tentara minimizar o
máximo possível de danos causados pela Reforma, e se manter como força
religioso-ideológica dominante.
A máquina da imprensa,
inventada por Gutemberg em 1450, possibilitou fazer a cópia idêntica de
milhares de documentos, panfletos e livros. A partir disso, num primeiro
momento, a Igreja Católica que se utilizou desse recurso para intensificar a
venda das indulgências. As indulgências, sendo uma espécie de “carta”, eram
confeccionadas manualmente até então. Porém, com a invenção da máquina de
imprensa e seu consequente aumento de velocidade na criação de múltiplos
documentos, foram impressas mais de 200 mil cartas de indulgências (SCHILLING,
c.2002a). Esse fato fomentou ainda mais todo o contexto no qual Martinho Lutero
se encontraria ao elaborar suas teses, com a venda desenfreada destes
documentos.
Assim, a invenção de Gutemberg
muito mais “incomodou” a Igreja do que o contrário. Para Burke (2002), “Os
Eclesiásticos (…) temiam que a imprensa estimulasse leigos comuns a estudar
textos religiosos por contra própria ao invés de acatar o que lhe dissessem as
autoridades”. O autor ainda cita casos, na Itália do século XVI, de
sapateiros, pedreiros, tintureiros e donas-de-casa que reivindicavam o direito
de interpretação das escrituras. Esse fato demonstra como a imprensa não
modificou somente os estratos religiosos da sociedade europeia, mas sim,
combinado com o “boom” de cultura e filosofia humanista que vinha aparecendo na
Europa do começo da Idade Moderna, alterou toda a mentalidade de um povo.
A Reforma Protestante, no entanto, não se resumiu somente ao
campo religioso. O campo político foi muito afetado pelo movimento reformista.
A partir da Reforma, diversos conflitos políticos, tendo como plano de fundo
esse novo conflito religioso que surgia na Europa, aconteceram.
Um dos episódios mais sangrentos desse conflito foi a Noite
de São Bartolomeu, ocorrida em 23 de agosto de 1572, em que os huguenotes foram
massacrados em Paris. Catarina de Médicis, rainha-mãe da França e sobrinha de
um antigo papa, ordenou o ataque. Uma estimativa diz que cerca de 5 mil pessoas
morreram nesse dia. Outras guerras civis de cunho religioso se seguiram na
França, até que em 1598 uma trégua foi negociada em Nantes, garantindo aos
huguenotes direitos civis, a proteção da lei e a permissão limitada de praticar
seu público seu credo (BLAINEY, 2007).
A Reforma Protestante foi um
fato importantíssimo para a história da civilização ocidental, e um dos fatos
mais importantes da era moderna. Todo seu contexto, toda a ruptura que ela
representou, todas as suas consequências são sentidas até hoje, em maior ou
menor grau, em todas as esferas da sociedade.
A IGREJA
HOJE
A Igreja cristã hoje, oriunda
da Reforma Protestante, perdeu em muito suas características originais,
dividindo-se em grupos e segmentos que mancham a imagem da Igreja e a torna
mais mundana que outras religiões pagãs.
As indulgencias combatidas por
Lutero se mostram presentes nas seitas neopentecostais. Temos visto a igreja
evangélica brasileira capitular-se ao misticismo pagão. O verdadeiro evangelho
está ausente de muitos púlpitos. Prega-se sobre prosperidade e não sobre
salvação. Prega-se sobre curas e milagres e não sobre arrependimento e novo
nascimento.
O lucro substituiu a mensagem
da salvação em muitas igrejas. Temos visto igrejas se transformando em
empresas, o púlpito em balcão, o evangelho num produto e os crentes em
consumidores. Além desse descalabro, muitas crendices têm substituído a verdade
em não poucas igrejas. Esses crentes incautos têm se alimentado do farelo do
sincretismo em vez de serem nutridos pelo Pão da Vida.
Há crentes que olham para a
Palavra de Deus como um livro mágico e consultam a Bíblia como se ela fosse um
horóscopo. Há aqueles que colocam um copo d’água sobre o aparelho de televisão,
enquanto o suposto homem de Deus ora, pensando que essa água “benzida” tem poder extraordinário.
Essas práticas não são bíblicas e devem ser reprovadas. Urge certamente uma
nova Reforma.
Vivemos uma banalização da
Teologia, e surgem os pastores de balcão, que não tem formação adequada e não
se contentam mais com a função pastoral local, mas a semelhança dos romanos
católicos, evocam para si títulos eclesiásticos cada vez maiores, fora de
qualquer contexto bíblico neotestamentário que induzem os incautos a uma obediência
cega e idolatra, criando ao seu redor impérios milionários, usando a
infraestrutura da mídia para autopromoção.
A igreja atual, se tornou
detentora de uma ortodoxia morta, com uma teologia baseada no liberalismo e na
politização.
CONCLUSÃO
A Reforma Protestante, além dos pontos bases dos
questionamentos contra Roma e seu sistema maquiavélico, tem como tônica
principal, o Retorno às Escrituras. Muito além dos pontos das 95 teses de
Lutero, a Reforma foi e é um “grito” contra
todo e qualquer sistema que tente dominar as vidas e conduzi-las por ganancia e
torpe desejo de promoção pessoal e de poder.
O voltar às Escrituras nos leva a verdades fundamentais da
Bíblia, tendo Jesus Cristo como nosso Firme fundamento e verdade absoluta, não
sendo necessário qualquer mediação humana para chegar-se à Deus.
“Respondeu Jesus: “Eu sou o
caminho, a verdade e a vida.
Ninguém vem ao Pai, a não
ser por mim” (João 14:6)
E como escreveu o Apóstolo Paulo aos Romanos, sendo este
texto do capitulo primeiro, um alicerce para a Reforma de Lutero.
“Porque no evangelho é
revelada a justiça de Deus,
uma justiça que do princípio
ao fim é pela fé, como está escrito:
“O justo viverá pela fé” (Romanos 1:17)
Que o Senhor nos auxilie e proteja contra
a nova babilônia. Que o espirito da Reforma seja uma realidade nos dias atuais.
Sejamos uma Igreja Reformada em constante Reforma para a Glória de Cristo.
Sola Fide (Somente a Fé),
Sola Gratia (Somente a Graça),
Solus Christus (Somente Cristo),
Sola Scriptura (Somente as Escrituras),
Soli Deo Gloria (Somente a Deus a Glória).
Sola Gratia (Somente a Graça),
Solus Christus (Somente Cristo),
Sola Scriptura (Somente as Escrituras),
Soli Deo Gloria (Somente a Deus a Glória).
No amor de Cristo,
Pr.
Rogerio Augusto Geraldo
Pastor Batista, Bacharel em Teologia,
Mestre em Ciências da Religião
Licenciando em História e Doutorando em Teologia
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