terça-feira, 31 de outubro de 2017

500 ANOS DA REFORMA PROTESTANTE

 
Hoje 31 de Outubro de 2017, celebra-se os 500 anos da Reforma Protestante de 1517, promovida pelo monge agostiniano Matinho Lutero ou Martin Luther. Em sua época, Lutero é enviado por seu superior Johann von Stauptuioz, para se especializar em teologia, onde ele vai para Universidade de Wittenberg, onde torna-se Doutor em Teologia em 1512.
Nessa época, a Igreja Católica vendia cartas de indulgências, que eram documentos que, ao serem comprados, “apagavam” todos os pecados da pessoa viva (ou morta, caso fosse comprado para livrar uma pessoa morta dos pecados). Outro ponto muito criticado por Lutero foi sobre a autoridade do papa como chefe da religião cristã.
Após a publicação de suas teses e sua excomunhão, em 1521, o édito de Worms baniu Lutero do Sacro Império. No entanto, esse édito foi apenas parcialmente respeitado, pois Lutero foi abrigado pelo príncipe da Saxônia, Frederico, e dentro dessa cidade, a Reforma “aconteceu”: Clérigos se casaram, a missa foi celebrada em alemão, foram introduzidas modificações no culto; as prédicas protestantes iriam, então, se multiplicar. (LIENHARD, 2005)
Contudo, esse movimento reformista não foi “inédito” na história europeia. Antes de Martinho Lutero publicar suas teses e iniciar a Reforma Protestante, dois intelectuais, dos séculos XIV e XV ganharam destaque por serem “percussores” da Reforma de Lutero, servindo até mesmo de inspiração para o mesmo (BRAICK E MOTA. 2007). Esses intelectuais eram John Wycliffe, professor em Oxford no século XIV e Jan Huss, padre na região da Boêmia, no século XV.
John Wycliffe (1353-1384), professor de teologia em Oxford, defendia a ideia de que a validade dos sacramentos não dependia daqueles que os administravam, assim, só considerava válidos os componentes da religião cristão citados na bíblia, além disso, desacreditava a utilização de imagens, a prática de peregrinações e as indulgências pelos mortos. Sua principal influência, em longo prazo, seria a tradução da bíblia para o inglês. Suas ideias seriam difundidas após sua morte, sobretudo em Oxford, e se encontrariam, em parte, na Reforma protestante (LE GOFF, 2007)
Jan Huss (1370-1415) pregava uma reforma moral na igreja e uma obediência estrita à palavra de Deus, tendo recebido influências diretas da doutrina pregada por Wycliffe. No entanto, por ter entrado em conflito com a hierarquia eclesiástica, foi excomungado pela igreja, e mais tarde foi perseguido por heresia, e acabou sendo preso e queimado na fogueira, ao passo de que as obras de Wycliffe seriam queimadas em público.
Sua morte causou uma revolta na população local, que retomou suas ideias e lutou contra o imperador, rei da Boêmia. Esses revoltosos ficaram conhecidos como hussitas, e eles conseguiram “separar” os tchecos da igreja romana, além de representar a primeira expressão do nacionalismo boêmio. Esse conflito, que levou o terror por onde passava e mais tarde foi massacrado pelas tropas do império, foi o primeiro grande movimento revolucionário europeu e deixou a Europa estupefata (LE GOFF, 2007)
Segundo Braick e Mota (2007), o próprio Lutero admitira que “Huss era o grande precursor da reforma”, mostrando a grande importância desses dois personagens que no passado também praticaram suas “heresias”, que só viriam a vingar no século XVI.
Apesar de o movimento ter começado no século XVI, sendo simbolizado pelo gesto de Martinho Lutero pregando suas 95 teses na porta do Castelo de Wittenberg, não pode ser compreendido somente pelo que aconteceu nesse ano (MARQUES, BEIRUTTI E FARIA, 2010).
O pensamento da sociedade da época começava a passar por mudanças, influenciadas pelas práticas Renascentistas, como a ênfase ao uso da razão, ou seja, buscando explicações mais racionalistas as questões que os cercavam, baseando-se na filosofia humanista que surgia. Havia também o desejo de liberdade, que relacionado com a vida urbana, pode fazer uma circulação de ideias muito maior do que acontecia até então. (MUZARDO E SILVA, 2013).
Com todo esse processo reformista, com o surgimento das novas religiões protestantes (Como Luteranos, Calvinistas, Batistas e Anglicanos, entre outros), a Igreja Católica perdera muito de sua influência, “territórios” e, não menos importante, fiéis, que agora se convertiam para as novas religiões. Sendo assim, era necessária fazer sua própria reforma, chamada de “Contrarreforma” ou “Reforma Católica”. Essa reforma, que já constava nos projetos de diversos bispos e teólogos desde a Idade Média, vinham sendo protelada pelos papas. Contudo, com a Reforma Protestante e suas consequências negativas para a instituição, tornou-se “obrigatório” para a instituição fazer a sua, porém, essa reforma agora teria um caráter “negativo”: O de ser contra a reforma luterana (MARQUES, BEIRUTTI, FARIA, 2010).
A Reforma Católica ocorreu durante o Concílio de Trento, que foi realizado entre os anos de 1545 e 1563. A partir desse concílio, alguns pontos criticados foram alterados, outros, no entanto foram mantidos; Entre as mudanças, houve a moderação na venda das cartas de indulgências e a formação de seminários para a formação de novos membros do clero; No entanto, os sete sacramentos, também criticados por Lutero, também se mantiveram; Além disso, o índice de livros proibidos (Index) foi criado, juntamente com a reativação do Tribunal de Inquisição do Santo Ofício, além da ênfase na Companhia de Jesus (MUZARDO E SILVA, 2013). Dessa forma, a Igreja Católica tentara minimizar o máximo possível de danos causados pela Reforma, e se manter como força religioso-ideológica dominante.
A máquina da imprensa, inventada por Gutemberg em 1450, possibilitou fazer a cópia idêntica de milhares de documentos, panfletos e livros. A partir disso, num primeiro momento, a Igreja Católica que se utilizou desse recurso para intensificar a venda das indulgências. As indulgências, sendo uma espécie de “carta”, eram confeccionadas manualmente até então. Porém, com a invenção da máquina de imprensa e seu consequente aumento de velocidade na criação de múltiplos documentos, foram impressas mais de 200 mil cartas de indulgências (SCHILLING, c.2002a). Esse fato fomentou ainda mais todo o contexto no qual Martinho Lutero se encontraria ao elaborar suas teses, com a venda desenfreada destes documentos.
Assim, a invenção de Gutemberg muito mais “incomodou” a Igreja do que o contrário. Para Burke (2002), “Os Eclesiásticos (…) temiam que a imprensa estimulasse leigos comuns a estudar textos religiosos por contra própria ao invés de acatar o que lhe dissessem as autoridades”. O autor ainda cita casos, na Itália do século XVI, de sapateiros, pedreiros, tintureiros e donas-de-casa que reivindicavam o direito de interpretação das escrituras. Esse fato demonstra como a imprensa não modificou somente os estratos religiosos da sociedade europeia, mas sim, combinado com o “boom” de cultura e filosofia humanista que vinha aparecendo na Europa do começo da Idade Moderna, alterou toda a mentalidade de um povo.
A Reforma Protestante, no entanto, não se resumiu somente ao campo religioso. O campo político foi muito afetado pelo movimento reformista. A partir da Reforma, diversos conflitos políticos, tendo como plano de fundo esse novo conflito religioso que surgia na Europa, aconteceram.
Um dos episódios mais sangrentos desse conflito foi a Noite de São Bartolomeu, ocorrida em 23 de agosto de 1572, em que os huguenotes foram massacrados em Paris. Catarina de Médicis, rainha-mãe da França e sobrinha de um antigo papa, ordenou o ataque. Uma estimativa diz que cerca de 5 mil pessoas morreram nesse dia. Outras guerras civis de cunho religioso se seguiram na França, até que em 1598 uma trégua foi negociada em Nantes, garantindo aos huguenotes direitos civis, a proteção da lei e a permissão limitada de praticar seu público seu credo (BLAINEY, 2007).
A Reforma Protestante foi um fato importantíssimo para a história da civilização ocidental, e um dos fatos mais importantes da era moderna. Todo seu contexto, toda a ruptura que ela representou, todas as suas consequências são sentidas até hoje, em maior ou menor grau, em todas as esferas da sociedade.

A IGREJA HOJE
A Igreja cristã hoje, oriunda da Reforma Protestante, perdeu em muito suas características originais, dividindo-se em grupos e segmentos que mancham a imagem da Igreja e a torna mais mundana que outras religiões pagãs.
As indulgencias combatidas por Lutero se mostram presentes nas seitas neopentecostais. Temos visto a igreja evangélica brasileira capitular-se ao misticismo pagão. O verdadeiro evangelho está ausente de muitos púlpitos. Prega-se sobre prosperidade e não sobre salvação. Prega-se sobre curas e milagres e não sobre arrependimento e novo nascimento.
O lucro substituiu a mensagem da salvação em muitas igrejas. Temos visto igrejas se transformando em empresas, o púlpito em balcão, o evangelho num produto e os crentes em consumidores. Além desse descalabro, muitas crendices têm substituído a verdade em não poucas igrejas. Esses crentes incautos têm se alimentado do farelo do sincretismo em vez de serem nutridos pelo Pão da Vida.
Há crentes que olham para a Palavra de Deus como um livro mágico e consultam a Bíblia como se ela fosse um horóscopo. Há aqueles que colocam um copo d’água sobre o aparelho de televisão, enquanto o suposto homem de Deus ora, pensando que essa água “benzida” tem poder extraordinário. Essas práticas não são bíblicas e devem ser reprovadas. Urge certamente uma nova Reforma.
Vivemos uma banalização da Teologia, e surgem os pastores de balcão, que não tem formação adequada e não se contentam mais com a função pastoral local, mas a semelhança dos romanos católicos, evocam para si títulos eclesiásticos cada vez maiores, fora de qualquer contexto bíblico neotestamentário que induzem os incautos a uma obediência cega e idolatra, criando ao seu redor impérios milionários, usando a infraestrutura da mídia para autopromoção.
A igreja atual, se tornou detentora de uma ortodoxia morta, com uma teologia baseada no liberalismo e na politização.

CONCLUSÃO
A Reforma Protestante, além dos pontos bases dos questionamentos contra Roma e seu sistema maquiavélico, tem como tônica principal, o Retorno às Escrituras. Muito além dos pontos das 95 teses de Lutero, a Reforma foi e é um “grito” contra todo e qualquer sistema que tente dominar as vidas e conduzi-las por ganancia e torpe desejo de promoção pessoal e de poder.
O voltar às Escrituras nos leva a verdades fundamentais da Bíblia, tendo Jesus Cristo como nosso Firme fundamento e verdade absoluta, não sendo necessário qualquer mediação humana para chegar-se à Deus.

“Respondeu Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim (João 14:6)

E como escreveu o Apóstolo Paulo aos Romanos, sendo este texto do capitulo primeiro, um alicerce para a Reforma de Lutero.

“Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus,
uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito:
“O justo viverá pela fé” (Romanos 1:17)

Que o Senhor nos auxilie e proteja contra a nova babilônia. Que o espirito da Reforma seja uma realidade nos dias atuais. 

Sejamos uma Igreja Reformada em constante Reforma para a Glória de Cristo.

Sola Fide (Somente a Fé),
Sola Gratia (Somente a Graça),
Solus Christus (Somente Cristo),
Sola Scriptura (Somente as Escrituras),
Soli Deo Gloria (Somente a Deus a Glória).

                                     No amor de Cristo,

Pr. Rogerio Augusto Geraldo
Pastor Batista, Bacharel em Teologia,
Mestre em Ciências da Religião
Licenciando em História e Doutorando em Teologia


REFERÊNCIAS
BÉLY, Lucien. A reforma, no centro da discórdia. História Viva. São Paulo. v. 2, n. 16 p. 58-61. Fev. 2005
BERUTTI, F. C. ; MARQUES, A. M. ; FARIA, R. M. . História Moderna através de textos. São Paulo: Contexto, 2010. 168p .
BLAINEY, Geoffrey. Uma Breve História do Cristianismo. 1ª ed. São Paulo: Fundamento, 2012
BRAICK, Patrícia Ramos. História: das cavernas ao terceiro milênio, volume único. 3. Ed. Reform. e atual. – São Paulo: Moderna, 2007.
BURKE, P. Problemas causados por Gutenberg: a explosão da informação nos primórdios da Europa moderna. Estudos Avançados, v.16, n. 44, p.173-185, jan./abr. 2002.
CARNEIRO, Henrique . Guerra dos Trinta Anos. In: Demétrio Magnoli. (Org.). História das guerras. São Paulo: Contexto, 2006, v. , p. 163-187.
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DUARTE, Teresinha Maria ; MUNIZ, T. A. . Relações e Rupturas entre o Cristianismo Medieval e o Cristianismo Moderno. Um estudo Da Liberdade do Cristão e Do Cativeiro Babilônico da Igreja (1520). In: Sociabilidades Religiosas: mitos, ritos e identidades, 2009, Goiânia. XI Simpósio Nacional da Associação Brasileira de História das Religiões. Sociabilidades Religiosas: mitos, ritos e identidades. Goiânia: Editora da UCG, 2009. p. 1-7.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A idade média: Nascimento do Ocidente. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2001.
LE GOFF, Jacques. As raízes Medievais da Europa.2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007
LIENHARD, Marc. A rebeldia de Lutero: Por Deus, contra a Igreja. História Viva. São Paulo, v. 2, n. 22 p. 66-74. Ago. 2005.
MUZARDO, F. T.; SILVA, F. L.. História Moderna. 1. ed. São Paulo: Pearson, 2013. v. 1. 184p.
RIBEIRO, G. M. ; CHAGAS, R.L. ; PINTO, Sabrine Lino. . O RENASCIMENTO CULTURAL A PARTIR DA IMPRENSA: O LIVRO E SUA NOVA DIMENSÃO NO CONTEXTO SOCIAL DO SÉCULO XV. Akrópolis (UNIPAR), v. 15, p. 29-36, 2007.
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